100 Medos Dublado Online
Nesta mistura de drama, comédia e romance, uma jovem enfrenta seus maiores medos para realizar o último desejo da melhor amiga.
Pra quem acompanha meus textos, observa que alguns temas parecem recorrer com alguma frequência entre as abordagens, mas a culpa disso não é minha, e sim das produções que parecem estar em consonância temática. Um recente que tenho observado é sintoma direto da pandemia, que parece ter acendido nos realizadores (por também perceber essa temática no espectador) é o quanto a pandemia do covid-19 gerou de sintomas escondidos de doenças psicológicas, que explodiram em dois anos. 100 Medos estreou na Netflix e tem tudo para ser mais uma comédia romântica – e dramática – de sucesso do streaming. O caminho aqui é o da ansiedade patológica, daquela que precisa ser tratada medicamente, que a produção não trata como reflexo direto, mas que está em voga por conta dos acontecimentos dos últimos dois anos.
O diretor Andrea Jublin foi indicado ao Oscar há 14 anos pelo curta-metragem Il Supplente, o que o colocou no olho do furacão. Ele não apressou sua carreira e entrega agora seu terceiro longa, sem apressar os processos. Com uma mão onde o sensacionalismo não está presente, o diretor persegue aqui angústias de todos os tempos que refletem o nosso, sem deixar de discutir processos etários no meio do percurso. Afinal, o crescimento é sim um somatório de motivos para desenvolver ansiedade, depressão e dependências emocionais, o que faz de 100 Medos universal e atemporal. Cabe no hoje de maneira literal, mas não deixa de refletir sintomas que o fim da adolescência legou a todos: como vencer os medos de ser alguém?
Tendo eu mesmo uma propensão à ansiedade, o filme é um manancial de gatilhos uns em cima dos outros. A identificação particular é um efeito, mas a identificação popular com tais afazeres em cena transformam a sessão em uma sessão exorcista de muitas questões. Mas, para além do reflexo invertido, 100 Medos funciona em sua estrutura dramática, e cria uma personagem plena de possibilidades. Sole é uma jovem prestes a completar 25 anos que não consegue criar uma autonomia em relação aos seus gatilhos, tão fortes que a impedem de realizar inúmeras coisas. Ela nunca viajou pois tem medo de avião, nunca trabalhou, nunca namorou, nunca andou de bicicleta, nunca teve outra amiga que não sua vizinha, e quando uma tragédia se abate sobre essa amizade, a menina precisa refletir sobre o que não a deixa evoluir.